Em 1831, o pintor de paredes Ernst Salomon Hildebrandt faleceu, deixano sete filhos pequenos e quase nenhum dinheiro à viúva, Renate. À época, somente o primogênito herdava os bens da família. Assim o primeiro filho de Ernst receberia o (pouco) dinheor dos Hildebrandt e os outros precisariam lutar pela sobrevivência. Neste cenário, o segundo filho, Eduard, sonhava tornar-se marinheiro, embora a mãe o quisesse artista. Aos treze anos, abandonou sua cidade natal, Danzig (atual Gdansk, na Polônia) e seguiu para Berlin. Lá, começou a estudar pintura Sete anos mais tarde, fazia sua primeira viagem. Visitou Inglaterra, Escócia, Dinamarca e rumou para Paris, onde foi aluno do pintor Isabey. Na capital francesa, seus trabalhos tornaram-se reconhecidos e premiados.
De retorno à Prússia, conhece Alexander von Humboldt, o maior cientista, botânico, astrônomo de todos os reinos de língua alemã. Este viu em Eduard Hildebrandt o futuro da arte prussiana. Por influência de Humboldt, o jovem pintor foi apresentado ao imperador prussiano, Frederico Guilherme IV. O monarca passa, então, a financiar as viagens e a comprar-lhe todas as telas. Essas viagens formam a maior marcha artística já registrada. Somente no Brasil, foram cinco cidades, tendo passado também por Canadá, Noruega, Japão e Hong Kong. O irmão mais novo, Fritz, trilhou um caminho mesno acadêmico. Apesar de ter começado a estudar pintura, logo se tornou marinheiro. Seu trabalho é bem menos conhecido que o de Eduard, mas igualmente respeitado como um bom pintor de motivos marítimos.
Há uma passagem bíblica sobre quatro leprosos condenados a viver fora dos muros da cidade. Caso infringissem a sentença, seriam mortos. Entretanto, estavam morredo de fome, junto à entrada da vila. Então, um deles diz: "Precisamos entrar lá de qualquer jeito. Se ficarmos aqui, morreremos com certeza. Mas, se conseguirmos entrar, teremos comida. E, se nos pegarem, morreremos também." Assim, eles entram na cidade e não são mortos.
O mesmo aconteceu em algum ano do século XIX em uma fria cidade prussiana. Dois irmãos perceberam que, ficando exatamente onde estavam, morreriam. Talvez nao de fome, mas aniquilados por uma existência incompatível com sua natureza. Eles ousaram cruzar as fronteiras de Danzig, buscar a sobrevivência e o sentido da vida longe de casa. E morreram, como todos morrem um dia. Eduard faleceu em Berlim, após uma volta mundo, duas exposições de sua obra em Londre e a publicação de seus diários de viagem. Fritz foi vítima de pneumonia, em Nápoles, Itália. Se o corpo não tivesse cansado antes, teria seguido em direção a Roma. Não foram, nenhum dos dois, super-heróis que mudaram a estrutura do mundo. Mas deixaram um legado artístico para as gerações futuras. Viajaram o mundo "when the going was easy", mas quando viver era tão difícil quanto hoje.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
sexta-feira, 9 de maio de 2008
O mundo de Molly
Dicas (que pretendem ser semanais) sobre o que acontece por aí.
Música: Onde brilhem os olhos seus, Fernanda Takai. Acompanho a carreira de Takai desde a época em que o Pato Fu era uma desconhecida banda mineira. Então, fiquei bastante curiosa para conferir sua carreira solo.Este CD novo já está na minha prateleira. Maravilhoso. Encantador desde o projeto gráfico até a escolha das músicas, passando pelo fofo agradecimento em japonês. A faixa número 9, Estrada do sol, toca sem parar lá em casa. CD lançado pela Do Brasil Música.
Livro: A caixa preta, Amos Oz. Lançado, no Brasil, pela Cománhia das Letras (www.companhiadasletras.com.br), o livro fas uma análise dos diversos relacionamentos em que nos envolvemos ao longo da vida.É interessante perceber como algumas relações são eternas. E como sempre orbitamos em torno daqueles que nos são importantes. Nos aproximamos ou nos afastamos, mas estamos sempre em seu raio de ação. Amos Oz vive entre Arad, no deserto de Neguev, e Jerusalém, onde leciona na Universidade Hebraica. É uma das vozes mais sensatas na discussão do conflito entre árabes e israelenses.
Filmes: Não estou lá, I'm not there, Todd Haynes, EUA, 2007. Esse filme vale uma postagem exclusiva. Teoricamente, seria uma cinebiografia de Bob Dylan. Mas ele tem muitas vidas e Haynes compreendeu isso. A fotografia, linda e em tons de amarelo, é assinada por . E o roteiro, escrito por . Vale conferir Cate Blanchett interpretando ums dos muitos Dylans, Richard Gere como um ermitão e Heath Ledger em um de seus últimos papéis. Destaque para Charlotte Gainsbourg.
Comida: A dica desta semana é a colônia de pescadores Z3. Isso mesmo. Aquela ao lado do forte Copacabana. Ótimo lugar para comprar peixe. Eles têm uma grande variedade e tudo da melhor qualidade. E tem receitinha também: misture uma colher de chá de páprica doce, 1 de páprica picante, 1 colher de chá rasa de cominho, sal e pimenta-do-reino preta a gosto. Passe a mistura em 1/2kg de filé de peixe branco, dos dois lados. Unte uma assadeira com margarina e "forre" com rodelas de batata. Fure a batata com um garfo e regue com azeite. Coloque os filés de peixe por cima. Salpique coentro picado e espalhe argolas de cebola. Mais azeite e cerca de 35 a 40 minutos no forno, não muito forte, para não ressecar.
Web: Scribd. Neste site, é possível baixar e compartilhar ebooks. O sistema de busca é uma verdadeira tragédia. Procurando por Mikhail Bakhtin, encontrei Julia Kristeva. E ao procurar por Kristeva, encontrei Judith Butler. A busca é superconfusa, mas está tudo lá. É uma ótima dica para quem já esgotou as possibilidades do Gutemberg Project e do Gutemberg - Der Spiegel.
Música: Onde brilhem os olhos seus, Fernanda Takai. Acompanho a carreira de Takai desde a época em que o Pato Fu era uma desconhecida banda mineira. Então, fiquei bastante curiosa para conferir sua carreira solo.Este CD novo já está na minha prateleira. Maravilhoso. Encantador desde o projeto gráfico até a escolha das músicas, passando pelo fofo agradecimento em japonês. A faixa número 9, Estrada do sol, toca sem parar lá em casa. CD lançado pela Do Brasil Música.
Livro: A caixa preta, Amos Oz. Lançado, no Brasil, pela Cománhia das Letras (www.companhiadasletras.com.br), o livro fas uma análise dos diversos relacionamentos em que nos envolvemos ao longo da vida.É interessante perceber como algumas relações são eternas. E como sempre orbitamos em torno daqueles que nos são importantes. Nos aproximamos ou nos afastamos, mas estamos sempre em seu raio de ação. Amos Oz vive entre Arad, no deserto de Neguev, e Jerusalém, onde leciona na Universidade Hebraica. É uma das vozes mais sensatas na discussão do conflito entre árabes e israelenses.
Filmes: Não estou lá, I'm not there, Todd Haynes, EUA, 2007. Esse filme vale uma postagem exclusiva. Teoricamente, seria uma cinebiografia de Bob Dylan. Mas ele tem muitas vidas e Haynes compreendeu isso. A fotografia, linda e em tons de amarelo, é assinada por . E o roteiro, escrito por . Vale conferir Cate Blanchett interpretando ums dos muitos Dylans, Richard Gere como um ermitão e Heath Ledger em um de seus últimos papéis. Destaque para Charlotte Gainsbourg.
Comida: A dica desta semana é a colônia de pescadores Z3. Isso mesmo. Aquela ao lado do forte Copacabana. Ótimo lugar para comprar peixe. Eles têm uma grande variedade e tudo da melhor qualidade. E tem receitinha também: misture uma colher de chá de páprica doce, 1 de páprica picante, 1 colher de chá rasa de cominho, sal e pimenta-do-reino preta a gosto. Passe a mistura em 1/2kg de filé de peixe branco, dos dois lados. Unte uma assadeira com margarina e "forre" com rodelas de batata. Fure a batata com um garfo e regue com azeite. Coloque os filés de peixe por cima. Salpique coentro picado e espalhe argolas de cebola. Mais azeite e cerca de 35 a 40 minutos no forno, não muito forte, para não ressecar.
Web: Scribd. Neste site, é possível baixar e compartilhar ebooks. O sistema de busca é uma verdadeira tragédia. Procurando por Mikhail Bakhtin, encontrei Julia Kristeva. E ao procurar por Kristeva, encontrei Judith Butler. A busca é superconfusa, mas está tudo lá. É uma ótima dica para quem já esgotou as possibilidades do Gutemberg Project e do Gutemberg - Der Spiegel.
terça-feira, 6 de maio de 2008
O guia do sofrimento de Molly B.
Essa seção de auto-ajuda não existia no antigo blog. Mas é sempre bom ajudar as pessoas. Então, resolvi publicar minha listinha de músicas para consertar um coração partido. Aí vai:
1 - The long and winding road, Beatles. Vocês acabaram de terminar. E você ainda acredita que exista algum amor dentro daquele coração malvado e cínico do sujeito que te deixou;
2 - In between days, The Cure. Você pensou, pensou e chegou a conclusão de que também errou. Agora, quer consertar tudo. Então, pede a ele que volte;
3 - Miss Misery, Elliott Smith. É, amiga, você está no fundo do poço. Não importa o que você faça, ele não vai voltar. Se é para sofrer, sofra direito! Ouvindo Elliott Smith, é claro;
4 - I will survive, Gloria Gaynor. Fundo de poço tem mola. Chega de chorar! Um banho morno e o seu melhor vestido, por favor;
5 - Tainted love, Soft Cell. Realmente, não poderia durar muito. São águas passadas. Excelente música para se maquiar e pensar em qual sapato combina com aquela sua bolsa ma-ra-vi-lho-sa;
6 - Sorry, Madonna. Ele se acha a última bolachinha do pacote. Relaxa! Madonna, a diva, sabe tudo: "You're not half the man you think you are";
7 - The love is gone, David Guetta. Opa, olha você na balada outra vez! A solteirice faz bem à alma. E repare naquele carinha tão gracinha, logo ali, ao lado. Ah, não! Tudo de novo? Não se esqueça: é só começar com Beatles.
P.S.: Nossa, nunca escrevi algo tão "mulherzinha". Mas foi para o bem da Humanidade, garanto.
1 - The long and winding road, Beatles. Vocês acabaram de terminar. E você ainda acredita que exista algum amor dentro daquele coração malvado e cínico do sujeito que te deixou;
2 - In between days, The Cure. Você pensou, pensou e chegou a conclusão de que também errou. Agora, quer consertar tudo. Então, pede a ele que volte;
3 - Miss Misery, Elliott Smith. É, amiga, você está no fundo do poço. Não importa o que você faça, ele não vai voltar. Se é para sofrer, sofra direito! Ouvindo Elliott Smith, é claro;
4 - I will survive, Gloria Gaynor. Fundo de poço tem mola. Chega de chorar! Um banho morno e o seu melhor vestido, por favor;
5 - Tainted love, Soft Cell. Realmente, não poderia durar muito. São águas passadas. Excelente música para se maquiar e pensar em qual sapato combina com aquela sua bolsa ma-ra-vi-lho-sa;
6 - Sorry, Madonna. Ele se acha a última bolachinha do pacote. Relaxa! Madonna, a diva, sabe tudo: "You're not half the man you think you are";
7 - The love is gone, David Guetta. Opa, olha você na balada outra vez! A solteirice faz bem à alma. E repare naquele carinha tão gracinha, logo ali, ao lado. Ah, não! Tudo de novo? Não se esqueça: é só começar com Beatles.
P.S.: Nossa, nunca escrevi algo tão "mulherzinha". Mas foi para o bem da Humanidade, garanto.
domingo, 4 de maio de 2008
A confissão
"Ame todas as mulheres." Roubei esta frase de um pedaço de papel preso à uma parede. Devo confessar, porém, que não roubei somente a frase, mas todo seu significado. Peguei-a para mim, como quem pega uma flor em um jardim. E a guardei. Fiz isso porque ela é a minha verdade. Pensando assim, talvez não a tenha roubado. É minha, foi feita para mim. Precisei apenas reencontrá-la e recolocá-la em seu lugar na minha vida.
Como tudo aquilo que entra por nossas vidas sem pedir licença, essa frase não me chegou pronta. Era necessário mudar o gênero do substantivo. "Ame todos os homens." Afinal, havia que adaptá-la à realidade da vida de Molly B. Mas ainda faltava algo. 'Todos' não me agradava. Era vago. Refleti, então, sobre o que me levava a amar criaturas tão imperfeitas, tão despreparadas para serem amados. Só assim a frase ficaria completa.
Não cheguei a qualquer conclusão. Obviamente. Comecei a analisar como amava. E percebi que aí estava toda a diferença. Segundo o pensamento romântico, mulheres fora feitas para serem amadas, admiradas, veneredas. Enfim, postas em um pedestal, de onde não devem descer, sob o risco de quebrar todo o encanto da feminilidade.
Entendiada com a vida no pedestal, desci. Quebrei o encanto, não sou o objeto do amor de alguém. Sou o sujeito que ama, que faz escolhas, arquiteta cenários e dirige a cena. Assim, efetivamente, amei todos os homens que mereceram ser amados por aquilo que são. Paixões eternas de trinta segundos, o homem da minha vida por duas semanas, amores também eternos de uns poucos dias. Alguns se perderam quando tudo acabou, outros, bem antes disso, outros ainda são visitadores, embora não (mais) tão freqüentes.
E toda a ironia está no fato de que esta frase estava presa à parede de um homem. E ele, naturalmente, nem percebeu que ela foi roubada e nem que ele foi amado. E, se soube, não deu por isso. Conduta compreensível e perdoável. Afinal, amar não é simples. Ser amado é... É?
Como tudo aquilo que entra por nossas vidas sem pedir licença, essa frase não me chegou pronta. Era necessário mudar o gênero do substantivo. "Ame todos os homens." Afinal, havia que adaptá-la à realidade da vida de Molly B. Mas ainda faltava algo. 'Todos' não me agradava. Era vago. Refleti, então, sobre o que me levava a amar criaturas tão imperfeitas, tão despreparadas para serem amados. Só assim a frase ficaria completa.
Não cheguei a qualquer conclusão. Obviamente. Comecei a analisar como amava. E percebi que aí estava toda a diferença. Segundo o pensamento romântico, mulheres fora feitas para serem amadas, admiradas, veneredas. Enfim, postas em um pedestal, de onde não devem descer, sob o risco de quebrar todo o encanto da feminilidade.
Entendiada com a vida no pedestal, desci. Quebrei o encanto, não sou o objeto do amor de alguém. Sou o sujeito que ama, que faz escolhas, arquiteta cenários e dirige a cena. Assim, efetivamente, amei todos os homens que mereceram ser amados por aquilo que são. Paixões eternas de trinta segundos, o homem da minha vida por duas semanas, amores também eternos de uns poucos dias. Alguns se perderam quando tudo acabou, outros, bem antes disso, outros ainda são visitadores, embora não (mais) tão freqüentes.
E toda a ironia está no fato de que esta frase estava presa à parede de um homem. E ele, naturalmente, nem percebeu que ela foi roubada e nem que ele foi amado. E, se soube, não deu por isso. Conduta compreensível e perdoável. Afinal, amar não é simples. Ser amado é... É?
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